quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Melhor coisa do mundo

E agora é assim...
Para mim a melhor coisa do mundo,
é quando me estreitas nos teus braços,
e eu,
recosto suavemente minha cabeça no teu peito,
e escuto as batidas do teu coração,
enquanto tu,
afagas suavemente os meus cabelos.
É verdade,
tens razão quando falas, que há quem não goste de momentos assim.
Eu bem sei que existem pessoas estranhas no mundo.
Mas não importa.
Porque quando estamos juntos,
somos só você e eu,
Como se nunca ninguém mais houvesse existido.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O perfume de Olívia

E ali estava Olívia, como todas as tardes, em sua cadeira de balanço. Aproveitando a brisa que afagava-lhe levemente os cabelos já embranquecidos pelo tempo. Ela devia estar pela casa dos 89, 90 anos.
Viúva da revolução, perdera a única filha para o sarampo ainda em tenra idade, mas interessante, não endureceu.
Ela tinha um semblante tranquilo, olhar doce, e embora já um pouco senil, era sempre muito delicada no trato com as pessoas. Era um desses seres humanos raros, que não se encontram assim facilmente.
Depois que perdeu sua família, tornou-se voluntária das forças humanitárias, e como não pudesse dar conta do próprio sofrimento, resolveu ajudar a amenizar o dos outros, e assim talvez ocupar a mente e exaurir o corpo, para tentar esquecer um pouco as suas mazelas.
Mas conseguiu muito mais do que isso, Olívia sarava as feridas do corpo e da alma, desde jovem teve uma sabedoria acima do normal, um olhar contemplativo, destes que perscruta e desarma mesmo os mais insensíveis.
Não sei o que se passava com essa linda criatura, se esse seu jeito era fruto de uma boa criação ou se tratava de um dom natural ou coisa assim. O fato é que me intriga até hoje que uma pessoa tão provada pela vida mantivesse tamanha serenidade.
E seus olhos...não viam praticamente mais nada, mas enxergavam longe. Vislumbravam episódios que se mesclavam em sua cabeça cansada: Ora uma linda pequena correndo de braços abertos, gritando "mamã", ora gemidos de homens feridos gravemente, tudo isso entrecortado com sobressaltos quando imaginava ouvir sons de tiros.
Será justo isso? Alguém semear flores e só colher os espinhos? Será verdade que o sofrimento liberta? Não sei, não compreendo sobre essas regras universais que regem os destinos dos viventes - se é que realmente existem - mas sei de Olívia. Sei que é possível atravessar um verdadeiro inferno sem perder a ternura, o amor para com as pessoas, a vontade de viver.
Aquela mulher de feições suaves, esculpidas pelo tempo sem muita delicadeza, era um paradoxo.
Mas também a prova, que quando o amor e a dor se misturam, geram frutos de redenção que se espalham num aroma irresistível que contagia quem tiver a sensibilidade de percebê-lo.
E naquela mesma tarde, quando toquei suavemente em seu ombro para levá-la para o interior da casa, ela havia adormecido, mas não estava apenas dormindo, chegou para ela o sono pelo qual ansiava a tanto tempo, mas sem jamais buscá-lo ou suplicá-lo.
Pacientemente Olívia esperou seu descanso.
Dorme querida, porque o perfume que espalhaste permanece no coração daqueles que buscam a felicidade mesmo entre as agruras desta vida infame.