terça-feira, 15 de setembro de 2009

Caixinhas de vidro

Eu recordo que quando era criança minha mãe costumava dizer que queria me colocar em uma caixinha de vidro. Na verdade ela ainda costuma dizer isso, mas hoje em dia, para os netos.

Só agora entendo a que ela se referia quando falava assim. É que nós adultos, ainda mais esse bicho estranho a quem chamamos carinhosamente de mãe, temos esse instinto de proteção para com os mais indefesos. Na caixinha de vidro de minha mãe, nenhum mal era capaz de me alcançar. E ela nem sabe, o quanto essa caixinha imaginária me protegeu.

Mas eu cresci, e a pequena caixa não deu mais conta do tamanho das minhas aflições, das intempéries que a vida, sempre sujeita a chuvas e tempestades, me trouxe durante o meu trajeto por esse mundo.

Muitas vezes eu quis encolher, como a Alice, aquela do país das Maravilhas, e caber novamente na caixinha da minha mãe. Mas o tempo, como um rio que segue seu o curso, não pode voltar atrás. E sei o quanto doeu nela, cada ferida que eu esperei pacientemente para curar.

Eu também gostaria de colocar tantas pessoas em caixinhas de vidro. Algumas crianças, outras nem tanto... Mas as caixas que construímos nunca são grandes o bastante. Mesmo assim queremos sempre proteger os que amamos, chegando ao absurdo muitas vezes de tentar impedir que eles vivam suas próprias experiências.

Mas cuidado, as caixinhas de vidro, mesmo as que guardam as melhores intenções, podem sufocar, e aí perdem a razão de ser e se transformam em prisões disfarçadas.

4 comentários:

  1. singeleza, sutileza, levaza
    o que dizer de toda a beleza que aqui vi?
    parabéns pelo espaço.
    Wacinom

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  2. Com toda razão. Tudo tem a sua dose certa. O resto vira alucinação.
    Adorei teu canto tb.

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  3. A caixa de vidro tem que proteger, mas não tornar mal acostumado. Tem muito adolescente que não sabe o mundo que vive, e vai levar na cara mais pra frente. Também não dá pra deixar a criança vunerável às maldades do mundo quando ainda é frágil. Concordo com a caixa de vidro da sua mãe, na dose certa.

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  4. Ei, Alê!
    Minha mãe não tinha uma caixinha de vidro... Mas encontrei muitas na vida. Hoje tento ter uma. Como você disse, nem sempre cabe todo mundo lá dentro. Bom, acho que só a vontade de proteger quem a gente ama já vale bastante, né?
    Bjo!

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